Aphonso acompanhava Flora até a casa dela, ambos conversavam enquanto caminhavam pela rua sobre assuntos que não levavam a uma longa conversa, então Aphonso mudou o rumo da conversa.- Terminou de ler o livro?
- Ainda não, ele é longo demais, parece até uma bíblia. - ela deu uma breve risada.
- Já lhe disse para parar de ler aquilo, aquele livro é cabuloso.
- Pois ele está me ajudando demais em minhas pesquisas sobre mitos e lendas.
- Estudos... Pra mim isso é pura frescura.
- Você é uma criança mesmo, não entende nada.
- Se sou criança, você é uma quadrada.
- Quadrada? Por que quadrada?
- Um dia você entenderá... Bom, chegamos em sua casa, está entregue.
Ela olhou para a porta de sua casa, depois para ele.
- Aphonso...
- Oi?
- Obrigada por esta noite, me diverti demais. Boa noite!
- Eu também.
Sorriram. Ela ia entrando na casa quando Aphonso a chamou novamente.
- Flora...
Ele puxou-a para si, beijando-a. O beijo não durou mais de um minuto e ambos se entregaram ao momento.
Após o término, Aphonso vira-se e sai andando como se não houvesse acontecido nada. Flora não se atreveu a dizer nada, então entrando em sua casa. Subiu as escadas em direção ao seu quarto, ao chegar no local, Flora dá um imenso grito: Ela se deparou com uma garota loira dos olhos verdes e os cabelos encaracolados.
- Quem é você? O que faz no meu quarto? - gritava.
- Não moça, não grite! - sussurrou a menina. - Você vai acabar atrapalhando a investigação!
- Investigação? Você invadiu minha casa, meu quarto!
- Ai meu Deus, que menina chata! Você não precisa se preocupar com nada mais, com estes seus gritos aterrorizantes, o ladrão já deve estar bem longe daqui.
- Ladrão? Oh, meu Deus! O que aconteceu exatamente aqui?
- Ai minha santa Queluzita que me guarda! Primeiramente chamo-me Hannah. Passava eu pela rua em frente a sua casa quando vi dois suspeitos observando a janela do quarto com um clima super tenso no ar. Uma moça pulou a janela assim que a outra foi embora e eu fui tentar impedi-la, mas quando ela notou minha presença, logo fugiu e notei que ela conseguiu levar uma coisa de pouco valor que tenho certeza que você não sentirá falta alguma.
- O que a mulher levou?
- Um livro de capa preta que mais parecia uma bíblia, você vai à igreja, meu amor?
- Hama, eles levaram meu livro!
- Primeiramente meu nome é Hannah e não, Hama. Agora devo-lhe confirmar que sim, eles levaram seu livro, mas não precisa se preocupar, eu posso conseguir uma réplica facilmente, apenas me fale o nome.
- Você não entende, aquele livro era único! Droga... Por que alguém roubaria um livro? Só pode ter sido uma pessoa... - os olhos de Flora ficaram mais vermelhos do que de costume, se ela fosse um dragão, naquele momento certamente cuspiria fogo. - Aphonso! - gritou.
- Eita criatura estressada. Já disse que foi uma mulher e não um homem, apenas se este Aphonso for um traveco.
- Eu não sou um traveco e muito menos roubei seu livro, Flora. - a voz vinha da janela que estava aberta e sentado nela encontrava-se Aphonso. - Hannah, bem que sua mãe disse que seu cheiro é fácil e rápido de se capturar.
- O que é isso!? - exclamou Flora. - Minha casa está tão fácil assim de ser invadida?
- Exatamente, querida. - Hannah olha para Aphonso e abre um grande sorriso malicioso. - Ah, você que é o Aphonso, que travecão lindo! Ui, me pega.
- Flora, deveria começar a guardar melhor os seus pertences e se quer saber... Eu lhe avisei para não ler aquilo. Vamos logo, Hannah!
- Vamos para onde, travecão?
- Seus pais mandaram eu te buscar, agiliza.
- Hum... Até mais, Flora! Tranque bem sua casa para que ninguém mais consiga entrar.
Hannah e Aphonso saíram pela janela e foram correndo para a rua, a seguir. Mesmo quase distantes, conseguiram ouvir os gritos de Flora:
- Ei, use a porta!
No dia seguinte, Flora foi até a casa de Angélica. Ao chegar, ela não conseguiu desviar o olhar do tapete da entrada da casa, este era vermelho e tinham letras bordadas em amarelo que dizia "Mascartti". Lembrou-se do que leu no livro, achando aquilo coincidência demais. Antes de pensar em bater na porta, esta já estava aberta e Angélica a recebeu com um grande sorriso na face.
- Você demorou, Flora!
Flora sorriu. Angélica ordenou que ela entrasse, e assim o fez. Ao adentrar, avistou N°3 sentada no sofá de veludo vinho, que aparentava ser bem confortável. Flora não costumava ir na casa dos Mascartti, pela lembrança, ela deve ter ido lá apenas três vezes e foram visitas rápidas. Porém, em nenhuma destas visitas, N°3 pode estar, já que os pais de Angélica não gostavam dela. Portanto, Flora não conseguia conter sua cara de espanto. Notando isto, Angélica disse:
- Não há ninguém em casa, por isso a N°3 está aqui. Sente-se logo, Flora. Irei buscar um copo de suco para você, fique a vontade.
Flora olhou para N°3, curiosa.
- Pensei que não frequentava a casa da Angélica.
- A família está de viagem e ficou apenas Aphonso e ela. Então, resolvi vir até aqui conversar uns assuntos com ela.
Angélica voltou para a sala e entregou o copo de suco para Flora. Ela segurou-o e pelo aroma que sentiu, só poderia ser de morango.
- Sobre o que vocês conversavam? - dizia Flora para N°3.
N°3 e Angélica se entreolharam, pensando no que iriam dizer para Flora, Angélica tentou ser o mais educado possível:
- Flora, não é por mal, mas existem assuntos que N°3 e eu não podemos compartilhar com você, me desculpe.
- É, acho que entendi.
Ela se levantou, deixando o copo de suco na mesa de centro da sala e seguiu em direção a porta. Angélica tentou segurá-la, mas Flora conseguiu se livrar facilmente.